Lancei uma cruzada particular. Não espero que ninguém venha a aderir, muito menos penso em pegar em armas. As únicas de que preciso são: paciência e duas mãos bem fortes. A primeira nem sempre tenho, mas as outras, bueno, podem ser fortes quando é preciso.
É uma cruzada simples, modesta, quase primitiva. Apelidei-a carinhosamente: Em Busca do Pão de Queijo Perfeito.
Já sei, vocês vão dizer que estou obcecada. Pode ser. Angélica me disse, hoje mesmo: “Você vai acabar descobrindo que veio até a Espanha só para aprender a fazer pão de queijo”. Faz sentido. Mas em que outra ocasião da minha atribulada vida eu teria tempo para tentar, e tentar, e tentar de novo encontrar a fórmula alquímica que resultará no mais apetitoso, crocante, amarelinho e fofinho pão de queijo? É uma empreitada quase hercúlea!
Descobri aqui perto um Latino, uma birosca ajeitadinha que oferece produtos típicos de vários países da América do Sul. Não falta polvilho na prateleira, nem farinha de mandioca, graças a Deus! Mas a farofa é outra história, hoje estou aqui para falar de pão de queijo.
Pues, bueno. Uns 500 metros adiante está o Mercado de Santa Caterina, com pelo menos cinco bancas com um sortimento de queijos i-na-cre-di-tá-vel! Passo meia hora olhando a vitrine e não sei o que escolher. Todas as texturas e todos os graus de maturidade que se pode imaginar, a partir de leite de vaca, de cabra, de ovelha, de búfala, meio-a-meio de vaca e cabra, frescal, meia-cura, curado, amarelo, branco, azul, cor de burro-quando-foge (aquele begezinho que se insinua, sabe?). Tudo. Tudo mesmo.
Ovos eu compro em qualquer esquina, certo? Sal, água, leite e óleo idem. E tempo felizmente eu tenho, pela primeira vez na vida. Por que não empregá-lo em tão nobre cruzada?
Já estou no teste número 3. O primeiro foi um desastre. Usei um queijo feta fresco demais e a massa ficou mole, sem chance de enrolar. Tive que pingar de colher numa forma e colocar rapidinho no freezer para poder assar depois. Assado até que ficou bonzinho, mas muuuuito longe do PDQ perfeito.
O teste número 2 foi um pouco melhor. Mudei de queijo, escolhi um meia-cura de leite de vaca. Consegui fazer as bolinhas. Mas na primeira fornada descobri que o tal queijo não tinha gosto de nada, não se incorporava à massa e o PDQ estava duro e insosso. Descongelei tudo, misturei mais leite quente e acrescentei queijo de cabra curado, ralado bem fino. Deu uma melhorada no sabor, mas a textura já estava perdida.
Ontem acordei animada para o teste número 3, mesmo de TPM. Desocupei a pia e coloquei a mão na massa. Mudei as proporções de secos e molhados, aumentei o sal e usei queijo de cabra curado finíssimo. Gastei toda a minha TPM sovando a massa, até ela quase desgrudar das mãos. Veja bem, eu disse quase. Ainda não descobri o segredo do PDQ que desgruda completamente das mãos – quando descobrir, juro que conto.
Consegui enrolar as bolinhas – com a ajuda de uma colher, confesso. Congelei as ditas-cujas. E assei uma mini-fornada hoje cedo para experimentar. Ficou bom. Eu disse bom. Sequinho, crocante e oco por dentro, que é para a gente poder colocar uma manteiguinha ou um pedaço de queijo. Mas ficou faltando alguma coisa, não sei o que é. Está longe de ser o PDQ perfeito.
Mas tudo bem, tenho tempo. E não me importo de tomar meu desayuno com PDQ todo santo dia. Nem as visitas tem reclamado da oferta da casa. O único risco é engordar… e não descobrir o segredo.
E já vou avisando aos mais afoitos: não adianta mandar receita. Eu tenho. Miles de receitas! Com leite, sem leite, com banha, com óleo, com manteiga – até PDQ de liquidificador já inventaram! Me recuso. Leio todas elas para entender como a coisa funciona, e juro que até já inventei uma receita que meu avô faz e dá super certo, mas comigo ela não funciona.
Quero mesmo é descobrir o segredo. A alquimia. A mágica da transmutação da matéria. Até chegar ao ponto de fazer sem receita nenhuma, medir o polvilho na palma da mão, escaldar com a mistura exata de óleo, água, leite e sal sem contar os mililitros, conhecer o queijo pelo cheiro, misturar os ovos um a um sem contá-los, sovar até não ter mais forças. Reconhecer o PDQ perfeito quando ele nascer entre meus dedos lambuzados de massa.
Eu juro que serei a criatura mais feliz desse mundo!
PS: Doñana me garantiu que vem amanhã para nos ensinar a fazer uma trufas crocantes de avelã. Huuummmm!
quando eu era pequena lá em barbacena (ba), iscuitei falar que pão de queijo fica bão com queijo parmesão! ou parmesano, que você vai encontrar fácil aí. que tal a idéia?
será o teste número 4! 😉
depois te conto.
beijo.
Aninhaaaaa,
Minha filhinha adooooooora PDQ. Então, filha de mineiros que não fazia PDQ, pedi a receitinha da minha mamãe. Fiquei com vergonha de não ter tentado antes: fácil e deliciosa!!! Para Juju precisa ficar mais macio, por isso um pouco de manteiga e leite.
Acho uma maravilha você tentar o seu PDQ perfeito. Cada um tem um ponto ideal.
Ai que saudades docê!!!
Longe de mim afoitar-me a lhe passar receita de pão de queijo porque pão de queijo é uma coisa que eu gosto de comer e não de fazer. Essa estória de escaldar polvilho e óleos e queijos é uma coisa que povoa as memórias da minha infância, quando a minha mãe visitava a vizinha da frente da nossa casa e me levava e, infalivelmente, a Nega (filha de criação das duas solteironas que moravam em frente) faria, enfiando a mão no saco de polvilho, medindo a mãozada, fazendo aquelas coisas todas, sem prestar muita atenção, enquanto conversava (e a Fiúca – outra filha de criação que era “bobinha” fumava escondido atrás do muro do alpendre e gritava uhhhhhhhhhhhhh puuutii! quando os meninos da rua mexiam com ela) uns pães de queijo infalivelmente deliciosos que, infalivel e mineiramente ela pediria desculpas porque “esses não ficaram bons”!
Pães de queijo nunca foram o que a minha mãe fazia de melhor, mas uma coisa eu me lembro dela fazendo, da Nega fazendo e de todas as pães-de-queijeiras fazendo: elas passavam óleo na mão para enrolar os tais ditos.
Beijo
ô trem bão, sô! depois peço a receita da mamãe, é bem boa! 🙂
Andréa, fuefa, dá um beijão com gosto de PDQ na Dona Lurdes por mim.
Beijo.