Nem só de palácios é feito o esplendor de Granada.
Depois de uma noite de sábado encantados com um Alhambra de teias geométricas, espelhos d’água e delicadezas, na manhã de domingo estávamos do outro lado do Vale do Valparaíso.
(clique nas imagens para ampliá-las)
Na margem oposta do Rio Darro (d’auro ou de oro), de onde se avista todo o Alhambra, está a segunda grande relíquia de Granada, o Sacromonte, outrora e ainda hoje morada de excluídos.
Em suas encostas se refugiaram judeus, muçulmanos e gitanos expulsos da cidade reconquistada pela coroa católica no final do século 15.
Ali começaram a escavar em busca de tesouros jamais encontrados, e ali mesmo, nas encostas do Sacromonte, incrustaram suas moradas: no oco escavado na terra.
E foi ali, nas cuevas do Sacromonte, que o pueblo gitano deu à luz o flamenco – cantando e bailando, num ritmo ao mesmo tempo sofrido e caliente, as dores de sua história.
Granada é toda uma viagem no tempo, e se não é possível conceber a cidade sem o Alhambra, também não haveria Granada sem las cuevas del Sacromonte.
Parte desta história está contada no acervo do Museo Cuevas del Sacromonte, bem ali no Barranco de los Negros, com suas casas caiadas de branco. Outra parte segue viva no bairro gitano encravado no monte, uma quase-favela em baixo relevo cercada por um tapete de margaridas miúdas.
Para contar um pouco dessa história, tomo emprestado um belíssimo poema do poeta andaluz Federico García Lorca, assassinado em Granada pelos soldados de Franco em 1936, aos 38 anos.
Reyerta
(Federico García Lorca, in Romancero Gitano)
En la mitad del barranco
las navajas de Albacete,
bellas de sangre contraria,
relucen como los peces.
Una dura luz de naipe
recorta en el agrio verde
caballos enfurecidos
y perfiles de jinetes.
En la copa de un olivo
lloran dos viejas mujeres.
El toro de la reyerta
su sube por la paredes.
Angeles negros traían
pañuelos y agua de nieve.
Angeles con grandes alas
de navajas de Albacete.
Juan Antonio el de Montilla
rueda muerto la pendiente
su cuerpo lleno de lirios
y una granada en las sienes.
Ahora monta cruz de fuego,
carretera de la muerte.
El juez con guardia civil,
por los olivares viene.
Sangre resbalada gime
muda canción de serpiente.
Señores guardias civiles:
aquí pasó lo de siempre.
Han muerto cuatro romanos
y cinco cartagineses
La tarde loca de higueras
y de rumores calientes
cae desmayada en los muslos
heridos de los jinetes.
Y ángeles negros volaban
por el aire del poniente.
Angeles de largas trenzas
y corazones de aceite.
Sensacional, Noquita! Você nos surpreende a cada nova história. Beijocas mil, com muitas saudades! Dedéa.
a beleza exposta é desfile. Passarela. Nos recônditos, nos esconsos, nos escuros, nos vãos… a beleza é totalitária!
beijo pra ti mujer gitana… es que non paras!