Deixamos Córdoba sob uma chuva torrencial, mas foi só virar a esquina e o céu começou a abrir-se em nuances de azul, como se adivinhasse que estávamos a caminho de um dos destinos mais fascinantes da viagem.
Ronda é uma jóia do Neolítico encravada no alto de um espetacular maciço rochoso 750 m acima do nível do mar. Uma preciosidade lapidada com precisão desde antes da História, por povos de origens tão remotas que é bem possível que tenham surgido ali mesmo.
É sem dúvida o lugar mais impressionante que já conheci. Um autêntico pueblo blanco, muito bem preservado, à beira do precipício, protegido por uma imponente muralha muçulmana e cortado pelas profundezas do rio Guadalevín, o Tejo de Ronda.
A delicada majestade de seus recortes marcou a vida e a obra de muitos artistas, entre eles o austríaco Rainer Maria Rilke, que viveu ali por um breve período, entre 1912 e 1913. Atraído pela pintura de Velázquez e El Greco, Rilke encantou-se pela cidade e, durante sua estada, produziu farta correspondência conhecida como seu Epistolario Español.
É de Rilke a descrição mais precisa para a Ronda gravada em minha retina:
“… el incomparable fenómeno de esta ciudad, asentada sobre la mole de dos rocas cortadas a pico y separadas por el tajo estrecho y profundo del río, se correspondería muy bien con la imagen de aquella otra ciudad revelada en sueños. El espectáculo de esta ciudad es indescriptible, y a su alrededor, un espacioso valle con parcelas de cultivo, encinas y olivares. Y allá al fondo, como si hubiera recobrado todas sus fuerzas, se alza de nuevo la pura montaña, sierra tras sierra, hasta formar la más espléndida lejanía.”
Eu, Felipe, Dona Nô e Seu Atílio nos hospedamos num pequeno e charmoso hotel-fazenda, aos pés da cidade, de onde avistávamos a jóia andaluza como uma coroa de diamantes brancos no alto do penhasco. Para chegar lá era preciso vencer uma estradinha estreita e sinuosa, profundamente castigada pelas chuvas que, semanas antes, haviam arrasado a região.
Antes do café-com-leite e do pão com tomate e jamón, respirávamos o ar puríssimo daquelas altitudes e conferíamos o movimento no pequeno estábulo ocupado por cavalos de raça.
Nos dois dias que ficamos ali, nem o vento gelado nos desanimou de percorrer a pé todas as ruas e ruelas que nosso tempo permitiu. Antes e depois da Ponte Nova (el Puente Nuevo), que cruza o abismo do Guadalevín em direção ao Casco Antigo.
Visitamos a antiga Medina, um belíssimo conjunto de casinhas brancas medievais no ponto mais alto do maciço, e nos fartamos com os incontáveis mirantes espalhados pela cidade – que é toda um privilegiado belvedere.
Ronda passou por inúmeras guerras, foi conquistada e reconquistada pelos mais diversos invasores e foi um dos últimos redutos muçulmanos a cair ante a coroa cristã, em 1495. Apesar disso, ao contrário de outras cidades cuja energia sucumbe ao peso da História, o que se respira em Ronda é o ar puro, fresco e leve de um reduto de paz. Bem pertinho do céu.
Próxima parada: a Plaza de Toros de Ronda
Não disse antes que terá um fascinante álbum de recordações? Ainda bem que não será apenas de homens e mulheres nuas ou semi-nuas!!!!!!!!!!
Estmos com saudades.
Beijo
Tio
Adoramos ! bjs
O lugar parece lindo, mas o seu relato eh ainda mais …
Beijo,
Amalia
Bienvenida, cariño! Entra, senta e toma um cafezinho 😉
Beijo.
De todos os lugares da série Espanha Adentro, esse foi o que mais me impressionou.
Se puder, Wellton, vá Ronda um dia, é muito mais do que eu pude contar.
Beijo.
Filha,
ninguém escreveria ou descreveria tão bem como você
sobre este maravilhoso lugar que pudemos curtir juntos.
Eu me senti lá novamente e foi munito bom.
Beijos, Pai.
Anamaria, não canso de repetir: que fotógrafa usted… Viajo…
Beijocas.