Faz tempo que quero contar esta novidade, mas só agora criei coragem – depois de testar três vezes a receita!
Pois finalmente encontrei o meu pão-de-queijo perfeito, aquele que nasce sorrindo das minhas mãos, com algum sacrifício mas sem dor, como devem ser as boas conquistas.
O primeiro teste foi lá em Zurich, na casa da prima Corinne. O queijo que encontramos no mercado foi um Grana Padano bem sequinho, ralado finíssimo. Ficou mais-que-perfeito!
O segundo eu conto depois…
O terceiro foi quase um teste de fogo: em El Casar de Talamanca, logo depois do Natal, na cozinha de Carmem, cercada por olhos curiosos e apetites virgens de sabores brasileiros.
Usei um queijo manchego bem curado – é um queijo muito comum aqui na Espanha, mistura de leite de vaca, ovelha e cabra. Bem salgadinho e com um sabor ao mesmo tempo forte e suave.
Pelo carinho com que minha anfitriã espanhola guardou as bolinhas congeladas depois de assarmos a primeira fornada, acho que deu certo.
O segundo… Bom, o segundo foi um teste de fé, um quase milagre, desses que acontecem de tempos em tempos na vida da gente. Deixei para o final porque é um causo interessante.
Pouco antes do Natal, fui até uma loja de queijos aqui perto de casa onde trabalha um mestre-queijeiro brasileiro. Queria uma dica sobre o queijo mais adequado para o PDQ, no infinito universo de combinações, texturas e graus de umidade que é um balcão de queijos na Espanha.
– Ainda não encontrei por aqui nada que se pareça com nosso queijo mineiro. O que você me indica?
Era a segunda vez que Bruno me via em sua vida, e me saiu com essa:
– Tenho um queijo mineiro aqui, se você quiser pode levar um pedaço.
– Co-co-como assim, um queijo mineiro aqui? Vocês importam queijo do Brasil?
– Não, infelizmente não. Este eu recebi de presente, porque andei pesquisando sobre a produção de queijo com leite cru no interior de Minas. Chegou em agosto, já está bem curado.
Foi lá dentro e voltou com a jóia na mão. Cheirou, me ofereceu para cheirar. Explicou que, atualmente, todos os queijos que vão para o mercado são feitos de leite pasteurizado.
– Este aqui não – e me mostrou a etiqueta: leite cru, sal e pingo.
– Pingo?
– É o soro do queijo da véspera, que funciona como fermento. Um processo artesanal usado há séculos nas fazendas mineiras, desde que os portugueses levaram para o Brasil a tradição da Serra da Estrela.
Lembrei de quando nos metíamos a fazer queijo na Fazenda Cachoeira, em Aragoiânia, lá se vão mais de 20 anos.
– Uai, sempre fizemos queijo com leite cru, e se me lembro bem era exatamente assim, misturando o soro do último queijo no latão de leite novo. Em um dia estava coalhadinho!
Passamos bem uns 15 minutos conversando sobre o assunto. Em português, claro, para desespero do outro queijeiro da loja, que não entendia nada daquela animação brasileira.
Finalmente, Bruno me entregou metade da sua jóia mineira:
– Me desculpe, mas a outra metade eu não posso te dar, preciso dela para…
– … para ser feliz! – completei, e ele riu.
Peguei o pacotinho e, como não vi a etiqueta, perguntei como fazia para pagar.
– É um presente. Este queijo é meu, não é da loja.
– Dios! Você tem um queijo mineiro de leite cru, artesanal, puro e lindo, e vai me DAR metade? Sem nem me conhecer?
Ele apenas sorriu.
Saí de lá meio tonta, e só no dia seguinte consegui colocar a mão na massa. Nunca me empenhei tanto! Este PDQ tinha que ser perfeito, mais que perfeito, tinha que ser di-vi-no!
Antes de embarcar para Madri, passei na loja e deixei um pequeno regalo de Navidad ao mestre queijeiro, um pacotinho com 20 bolinhas congeladas de PDQ. Ainda não sei se ele aprovou. Amanhã saberei.
Meu PDQ perfeito
1 – Misturar em um bowl:
- 500g de polvilho doce
- 2 a 3 colherinhas (café) de sal, dependendo do ponto de sal do queijo
2 – Escaldar com uma mistura fervente de:
- 125 ml de água (1/2 copo)
- 125 ml de óleo (1/2 copo)
- 125 ml de leite (1/2 copo)
3 – Misturar até formar uma goma. Deixar esfriar um pouco e acrescentar 250g de queijo curado ralado fino.
4 – Acrescentar, um a um, 3 a 4 ovos inteiros, em temperatura ambiente, amassando com as mãos até a mistura desgrudar das paredes do bowl. Se necessário, acrescentar mais um ovo ou um pouco de leite frio para a massa atingir a textura correta – nem seca que esfarele, nem mole que não possa ser enrolada.
5 – Enrolar em bolinhas com as mãos levemente untadas de óleo.
6 – Assar na hora ou congelar (as bolinhas vão diretamente do freezer para o forno).
7 – Forno quente por 15 a 20 minutos, até dourar. Se a massa estiver congelada, coloque as bolinhas assim que acender o forno, assim elas vão descongelando enquanto ele aquece.
8 – Sirva quente com aquele cafezinho passado na hora.
Rendimento: 1,3 kg de massa, ou 50 pãezinhos de 25g (aproximadamente 3 cm de diâmetro).
(Receita revisada; a original está publicada aqui)
Ana, aqui em Luanda tbm não tem calabreza, paio, só choriço e umas linguiças portuguesas que não tem nada a ver … Quiejos, todos, menos o “qualho”! Esta semana vou fazer um vatapá (o camarão seco veio da Bahia), o dendê aqui é óleo de palma, deve ficar gostoso… BJS.
Ola! Meu nome e’ Sabrina.moro em Londres fazem 8 anos e morro de saudades de um bom pao de queijo. Tentei varias receitas ate hoje mas nada que se comparasse com aquele pao de queijo perfeito. Crocante por fora e puxento por dentro. Bom..vim aqui para te agradecer, pois essa receita faz exatamente o pao de queijo que sempre sonhei em reproduzir. Receita impressa..e essa sera a receita que farei e refarei para o resto dos tempos! 🙂
Que alegria saber disso, Sabrina!!! Obrigada por me contar.
Em 2009 tínhamos um grupo de brasileiros que trabalhavam em obras em Angola. Cada um que vinha ao Brasil tinha que retornar com algo diferente para fazermos nossos quitutes. Shoprite, Nosso Super, Extra… o difícil era sairmos sem que os angolanos não nos incomodassem achando que tínhamos que dividir com eles o que comprávamos. Quanta festa boa no Cajueiro…