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Archive for 9 de fevereiro de 2010

Foto Anamaria Rossi (num terreiro de fazenda em Uberlândia, MG, 2008)

Uma das coisas boas do jornalismo, para quem está do lado de cá da caneta e do bloquinho, é conhecer gente interessante. Principalmente quando você está na Editoria de Cultura e te mandam entrevistar uns caboclos como Pena Branca e Xavantinho.

Isso me aconteceu já nem sei há quantos anos. Eu era foca, foquíssima. Trabalhava no Caderno Dois do Correio Braziliense. A dupla de cantores mineiros faria um show em Brasília e fui escalada para entrevistá-los.

Moleza. Eu adorava música caipira “de raiz”, tinha vários discos deles e estava de olho nos convites para o show. O único problema é que a entrevista teria que ser feita por telefone, porque eu estava na redação e eles em Minas Gerais.

Ok, vamos lá. Peguei o gravador de fita K-7 e fiz a gambiarra de praxe à linha telefônica. Era um gravador jurássico, daqueles enormes e pesados, e às vezes era preciso segurar bem apertados, e ao mesmo tempo, os botões PLAY e REC para ele gravar alguma coisa. Felizmente não foi neste dia, assim pude curtir um pouco a entrevista.

Liguei e quem atendeu foi o Xavantinho. Começamos a conversa e dali a pouco ele perguntou se podia ligar o viva-voz do telefone, “o Pena Branca tá aqui do meu lado”. Uau! Viva-voz era o máximo da sofisticação! E falar com os dois ao mesmo tempo, à distância, era o supra-sumo do esforço jornalístico para uma foca.

Paulista do interior, eu me sentia em casa com aquele sotaque de mineiro do Triângulo (Ribeirão escapou por pouco de ser das Gerais…), e de tão acostumada com o som da viola quase nem me dei conta quando eles começaram a tocar do lado de lá da linha.

Até que o agudo de um e o grave de outro entraram juntos pelo fio do telefone: “Debulhar o trigo, recolher cada bago do trigo, forjar do trigo o milagre do pão e se fartar de pão…”

Quase desmaiei no meio da redação! Sim, eram eles, Pena Branca e Xavantinho, minha dupla caipira preferida de todos os tempos, tirando uma palhinha no viva-voz diretamente para mim! Como uma roda de viola hi-tech exclusiva!

Nunca mais perdi uma apresentação deles em Brasília, até o dia em que Xavantinho partiu para cantar em outros quintais, deixando seu irmão com um agudo ainda mais agudo.

Hoje faz um dia que Pena Branca seguiu os passos dele. Sabe-se lá por que bandas os dois vão tocar agora sua “boiada” de canções, mas uma coisa é certa: aqui das bandas do meu iPod eles não saem de jeito nenhum.

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Ariovaldo Giaretta

O bônus fica por conta da Solange, que leu a notícia no UOL hoje de manhã e me contou outra: um colega seu da Universidade Federal de Uberlândia, biólogo e professor como ela, deu o nome da dupla a uma nova espécie de rã que ele descobriu na cidade onde eles nasceram.  A Ischnocnema penaxavantinho está lá na Folha Online.


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