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Archive for the ‘Barcelona’ Category

Estou de volta a Barcelona para uma nova temporada, e como os tempos são outros acabei criando um novo blog:

ACHADOS & PERDIDOS

Apareça!

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Para renovar o estoque de carinho do filhote e da nora... (por Pedro Rossi)

... fomos tomar umas cañas no café dos argentinos... (por Feder, o camarero)

Tristeza é ver o filho amado partir para muy lejos... (por mim)

Na verdade, as despedidas começaram antes, no niver do Chiquinho... (por mim)

Con mi grande compañero, el guapísimo Pedro Rossi... (por Ines Copf)

Ines, Pedro e Ceci, na casa onde tudo começou... e terminou (por mim)

Com minha querida família barcelonesa, a Padovani-Amaral: Tomás, Angélica e João... só faltou o Chiquinho... (por Ines Copf)

Con las chicas más fuefas do mundo mundial, Patu e Michelly... (por Ines Copf)

A Grande Família posa para o porta-retrato... (por Ines Copf)

Aqui com Ines, a bósnia-grega mais encantadora do pedaço... (por Pedro Rossi)

No derradeiro passeio, os vitrais da igreja Santa Maria del Mar...

... onde agradeci muitíssimo à Virgem de Montserrat por tudo o que a Catalunha me deu nesses 14 meses... (por mim)

E o ponto final, a Plaza Cataluña, onde Barcelona é muito mais Barcelona... (por mim)

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Fotos Anamaria Rossi

Ainda me lembro do primeiro dia de aula, quando todos pararam para olhar aquela aluna estranhíssima que chegava atrasada, metida num tropicalíssimo vestido florido de mangas largas. Eu era apenas uma estrangeira, de três, numa turma de catalães típicos, que só falam catalão entre si e não dão muita trela para estranhos.

Resisti bravamente. E valeu a pena! Hoje foi nossa Aula de Formatura e saí de lá com o terceiro diploma de mi vida: Pastelera!

Aula de Formatura, sim, porque nós mesmos preparamos os quitutes, montamos a mesa e fizemos a festa. Com direito a muito Cava, claro.

Não, vocês não estão vendo mal: essas delícias aí de cima são espetinhos crocantes de camarão, rebozados com ingredientes tão estranhos como arroz verde, farelo de milho torrado e pan rallado turbinado com glucosa.

Nunca imaginaram isso numa aula de doces, certo? Pois nem eu. Foi uma espécie de preview do curso avançado de Pastelería, quando se aprende a aplicar na confecção de pratos salgados as delicadas técnicas da repostería.

Algo como confeccionar delícias salgadas que, tal qual os doces, comeremos antes com os olhos. Como os delicados samosas, feitos com massa de rolinho primavera e recheio de legumes salteados com espécies orientais.

Não sei se houve uma reserva especial de humor para a derradeira aula, mas estavam todos tão sociáveis e divertidos que me deu até pena de ir embora…

Preparamos também um canapé que é uma miniatura de torta tatin. Sobre uma base de massa folhada, assada separadamente, encaixamos rodelas de maçã assadas com caramelo em pó, e o toque final e salgadinho fica por conta de um pedacinho de foie salteado na hora.

Antes mesmo de saltear o foie, Carmem já tinha ajeitado todas as mini-tatins na bandeja do banquete…

Preparamos também madalenas salgadas, em forminhas de brigadeiro pequenas, com três recheios diferentes: sobrasada (embutido pastoso típico de Mallorca, à base de carne e gordura de porco, pimenta negra e muita páprica picante); olivada (pasta de azeitonas negras com azeite e, às vezes, anchovas) e  queijo tupí (queijo cremoso curado e temperado com aguardente, de sabor forte e persistente, produzido nos Pirineus Catalães).

Na foto acima, os copinhos onde serão apresentados os espetinhos de camarão recebem una salsa caliente de queijo parmesão.

Tudo pronto, só falta o acabamento de foie sobre as tortinhas de maçã!

A ordem era atacar, mas quem tinha coragem de desmontar aquela belezura toda antes de, pelo menos, tirar uma foto?

E aqui o registro dos dois troféus do dia: o diploma e o curativo no dedo, vítima da faca afiadíssima enquanto picava legumes para o samosa

Bueno… Como tudo começa e termina em Madalena, encerro a sessão Doñana com as deliciosas e facílimas…

MADALENAS PARA APERITIVO

  • 60 g de açúcar
  • 2 ovos
  • 100 g de farinha de trigo
  • 6 g de pó Royal
  • 100 g de manteiga derretida e esfriada
  1. Bata bem os ovos com o açúcar.
  2. Acrescente a farinha peneirada com o pó Royal e misture delicadamente.
  3. Incorpore a manteiga derretida sem bater.
  4. “Tempere” a massa, ou partes dela, com o que lhe apetecer, de preferência ingredientes salgados, pastosos e de sabor pronunciado.
  5. Cubra a massa com filme e deixe repousar na geladeira por pelo menos uma hora.
  6. Encha forminhas de brigadeiro até quase a boca e leve ao forno pré-aquecido (210 graus) por poucos minutos, até que as madalenas estejam crescidas e cozidas (faça o teste do palito).

OBS: Apesar de levar açúcar, a massa não fica exatamente doce, principalmente se o ingrediente escolhido para dar sabor for bem salgadinho. Não se aconselha reduzir a quantidade de açúcar da massa, isso mudará totalmente sua textura.

Bon profit!

* Por incrível que pareça, a festa de formatura dos doceiros não teve sobremesa…

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Fotos Anamaria Rossi

Semana passada fui visitar duas bodegas de Cava, o vinho espumoso com DOC (Denominação de Origem Controlada) da Cataluña. O Cava está para a Espanha como o Champagne para a França. Não são iguais, embora sejam ambos vinhos espumosos. Provêm de uvas distintas e passam por processos e etapas de produção bem diferentes. Para um neófito, podem parecer a mesma coisa, mas um bom conhecedor sabe a diferença – como também sabe que são diferentes o excelente espumante brasileiro e o famoso Prosecco italiano.

A generosíssima Patu já havia me levado a Sant Sadurní D’Anoia para conhecer o Instituto do Cava, que entre outras coisas trabalha duro para criar mercado para o seu produto no Brasil.  Sant Sadurní é a Capital do Cava. Fica no meio das montanhas do Alt Penedés, cercada de vinhedos por todos os lados, e cheia de cuevas, as cavas, nos subterrâneos. Ali se produz 90% de todo o Cava espanhol.

Ainda me faltava conhecer as bodegas e ver, ao vivo, como é feito este vinho que se tornou minha mais nova e perene paixão. A idéia era ter voltado a Sant Sadurní a tempo de contar essa história numa Carta de Barcelona, mas não deu. Uma pena. Porque é uma verdadeira Viagem ao Centro da Terra!

O Instituto do Cava, sabedor do meu interesse inclusive como provável futura compradora no Brasil, agendou visitas a duas bodegas já devidamente representadas e distribuídas em terras brasileiras, Freixenet e Gramona. Recepção de luxo e altamente profissional em ambas, com direito a degustação no final!

O Grupo Freixenet é o maior produtor de Cava do Mundo Mundial, a milhas e milhas de distância dos demais, e seus diversos rótulos chegam a todas as partes do mundo. É provavelmente o Cava mais conhecido no Brasil, e o mais consumido.

A visita compreende a cava antiga, onde ainda se produzem umas poucas variedades de Cava de forma artesanal, e a nova e gigantesca área de produção, totalmente automatizada, dotada de laboratório para o cultivo de leveduras patenteadas e tanques de fermentação que me fizeram lembrar dos tempos da Petrobras.

Como qualquer produto designado ao grande mercado consumidor, os Cavas Freixenet tem como marca registrada a constância. Você pode abrir uma garrafa de Cordon Negro, Cordon Rosado ou Carta Nevada em qualquer parte do mundo e sentirá o mesmo sabor. Este é o objetivo e ao mesmo tempo um importante fator de êxito da empresa. Para quem pede mais, o grupo oferece alguns rótulos de maior delicadeza e menor escala, como o Reserva Real, que infelizmente só está no mercado espanhol.

Bem diversa é a filosofia da Gramona, produtora dos chamados Cavas de alta gama. Embora o processo de produção seja moderno e bastante automatizado, alguns rótulos recebem cuidados tão especiais que chegam a ter as garrafas embaladas manualmente em celofane para chegarem intactas ao destino.

Boa parcela dos Cavas Gramona ainda são produzidos na cava antiga, quatro andares dentro da terra que sustenta o edifício administrativo no centro de Sant Sadurní. Pode-se dizer que, embora não seja exatamente uma produção em pequena escala, o processo mantido por esta bodega ainda é, em certa medida, artesanal.

Descer as escadas úmidas e penetrar nas cuevas escuras e centenárias é uma experiência indescritível! Fotografar é quase impossível. Os vinhos, ali, repousam de quatro a cinco anos na mais absoluta escuridão – tempo que a levedura leva para forjar sabores igualmente indescritíveis, e as garrafas são cobertas pela poeira fina da maturação.

Até os anos 80, a Gramona manteve uma unidade de produção no Brasil, mais precisamente em Jundiaí, e chegava às gôndolas sob o rótulo Gramond. Hoje a produção é exclusivamente catalã. Allegro, Imperial e III Lustros são três dos rótulos atualmente distribuídos no Brasil. Todos di-vi-nos!

Ai, acho que eu vou ter que montar um café só para poder colocar essas delícias no cardápio…

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The Milkmaid, Jan Vermeer

Eu sei que eu não deveria ficar aqui contando tantas intimidades, mas é que realmente a Semana da Reciclagem na geladeira aqui de casa está me saindo uma belezura!

Hoje eu comecei pelo congelador: o penúltimo dos moicanos era um potinho de molho à bolonhesa home made by myself. Uma bolonhesa nada original, porque a carne moída que encontrei naquele longínquo dia da confecção do molho não era apenas uma carne moída, era um preparado para alguma coisa que já vinha com um pouco de amido misturado. Mas o sabor do tomate bem cozido, com cebola, alho, azeite de oliva e um buquê de ervas, me ajudou a superar o trauma da desagradável textura da carne.

No segundo passo, ao abrir a porta inferior da geladeira, dei de cara com a bandeja de frios: zero jamón, miles de quesos! E, confesso, pouca coisa além disso nas prateleiras vizinhas, a não ser por algumas frutas e legumes que, definitivamente, eu não estava a fim de comer num dia tão friorento.

Automaticamente as palavras “bolonhesa” e “queijo” combinaram-se em meu Sistema de Busca Interior, que para minha alegria acendeu o alerta laranja do armário: ***massa de canelone disponível***.

Antes que eu tivesse tempo de contar as calorias da bomba que daria à luz em poucos minutos, os apetrechos já estavam alinhados sobre a pia, e duas panelas com água, sal e azeite já começavam a borbulhar no fogão.

Nos 15 minutos que a pasta levou para cozinhar, preparei uma béchamel bem enxutinha, com farinha de trigo, manteiga, leite, noz moscada e uma pitada de sal, e dividi em três partes. À primeira juntei pedacinhos de queso azul; à segunda, um pouco de brie desmanchado (brie é incrivelmente barato aqui na Espanha); à terceira, um pouco de emmental ralado e uns pedacinhos de queijo fresco.

Para dar mais consistência à béchamel, dividi entre os três potinhos as duas fatias de mussarela magra que me restavam (eu sei que deveria ter pensado em algo menos gorduroso, mas o fato é que eu queria acabar com aqueles queijos todos…).

Esfriei um pouco os cremes de queijo, para dar-lhes textura de recheio, montei os canelones alternando os sabores, cobri com a bolonhesa borbulhante e levei ao forno para gratinar com um pouquinho de grana padano ralado.

Feitas as contas, temos aí nada menos que seis queijos, o que é um exagero evidente, só permitido em situações extremas de Reciclagem de Restinhos em Véspera de Mudança.

A parte ruim de tudo isso foi que o restinho de vinho branco que descansava na geladeira não pode ser incorporado ao banquete, estava quase virando vinagre.

A parte boa é que sobrou metade da forma de Cannelloni Tutti Formaggi para o jantar…

Foto Anamaria Rossi

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Na festa de formatura, eu e Jesus, meu primeiro parceiro nas aulas de cozinha, exibimos orgulhosos nossos diplomas

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Pose nada clássica com Loreto, que roubou o lugar de Jesus e foi uma grande parceira

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Fazendo charme ao lado do chef Lluis Rovira, queridíssimo e competentíssimo!

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Lluis abriu os trabalhos com uma bela festa, quitutes mil e, claro, muito Cava

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O segundo turno da festa foi em um bar de tapas em frente à escola

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Alícia tenta captar a borrachera de Paloma e Loreto no bar dos argentinos, terceira parada na ronda comemorativa

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Loreto, com o ar tropical das Canárias, e Alícia, cheia de ginga catalana-andaluza

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Como achamos pouco, las cuatro guapas borrachas partimos para a quarta etapa

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Alícia e sua amiga e parceira de cozinha, a guapísima e querida galega Paloma

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A dupla mais dinâmica do Mundo Mundial: Doñana e Lore, depois dos mojitos finais

E aqui termina a história de um de recomeço – e começa outra, ainda por viver e contar.

Anamaria Rossi, Jornalista e Cozinheira.

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… Entramos na penúltima semana de atividades deste modestíssimo blog com a marca de 40 mil cliques!

Foto Anamaria Rossi

Muchísimas gracias a todos!!!

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Fotos Anamaria Rossi

No início do verão resolvi fazer uma visita ao Monastério de Montserrat, a padroeira da Catalunha. Uma visita meio turística, meio mística, e com uma boa dose de trilheira, para matar a saudade das caminhadas pela Chapada dos Veadeiros.

Diz a lenda que no ano 880 foi encontrada lá, num local hoje conhecido como Santa Cueva, a imagem da Virgem de Montserrat. Anos depois, em 1025, ergueu-se o Monastério naquela espetacular fenda do maciço que se levanta a mais de 700 metros à direita do rio Llobregat.

Saí de trem de Barcelona numa manhã de sol, seguindo até a base do maciço, e lá tomei a cremallera que serpenteia ao redor das montanhas e nos leva até quase o topo.

Adivinhem qual foi a primeira coisa que fiz ao chegar lá em cima? Localizei uma trilha fantástica, no meio da mata que cobre a lateral de uma montanha!

Pelo caminho, me detive nos pequenos altares construídos ao longo da trilha por comunidades dos mais diversos pueblos em homenagem a suas santas padroeiras.

E não pude evitar o deslumbramento da paisagem que se descortina do lado oposto – o vale do Llobregat logo ali, a um pulinho, 750 metros abaixo de meus pés.

O silêncio foi meu companheiro durante toda a caminhada – os turistas se aglomeravam em outros pontos do que hoje é um grande e bem cuidado complexo turístico.

A tranquilidade aguçou meu olhar para as delicadezas do caminho – como essa lindeza da foto abaixo, que eu desconfio seja uma groselha, ou uma parente muito próxima. Na dúvida, preferi não provar…

Com a ajuda de um funicular e uma bela caminhada ladeira acima, cheguei ao topo de uma montanha ainda mais alta, a mil metros do nível do mar.

No final da trilha, entendi o que é solidão de verdade: a Ermida de San Juan, isolada, quase inatingível, confunde-se com uma paisagem pedregosa e remota, de onde se avista, muy lejos, quase toda a Cataluña.

A essa altura o domingo já estava no fim e ainda faltava visitar a Basílica…

Confesso que igrejas não são o meu forte em passeios turísticos, mas estava fora de cogitação não pedir a bênção à Virgem de Montserrat. Então, lá fui eu para a fila.

La Moreneta, como é popularmente conhecida, é uma bela madona negra, talhada no século XII à imagem e semelhança da lendária Virgem da Santa Cueva, e reverenciada por fiéis de vários países. Na mão direita ela sustenta o Mundo, e com a esquerda acaricia o Menino Jesus – que por sua vez abençoa os fiéis com a direita e, com a esquerda, segura uma pinha, símbolo de fecundidade e vida perene.

Depois do encontro em pessoa com La Moreneta, se você quiser, pode fazer suas orações na belíssima capela que fica às costas dela.

E na saída pode comprar uma vela e oferecê-la num dos muitos nichos reservados para isso.

La Moreneta integra o repertório religioso de diversas comunidades hispanoamericanas, graças a um antigo ermitão de Montserrat, Bernat Boil, que acompanhou Cristóvão Colombo na segunda viagem às Américas, em 1493, e foi nomeado o primeiro vigário das Índias Ocidentais, espalhando pelo Novo Mundo o culto à Virgem negra.

Mas a história do Monastério vai muito além da devoção religiosa. Nos séculos XVII e XVIII, tornou-se um importante centro cultural, referência na formação de músicos. Logo depois, em 1811, foi destruído pelas tropas de Napoleão.

Reconstruído, foi vítima da Guerra Civil Espanhola, entre 1936 e 1939, quando 23 monges morreram e os restantes tiveram que abandonar o Monastério. Salvou-se de nova destruição graças à proteção do Governo Autônomo da Cataluña.

Nos anos 70 do século passado, foi reduto de resistência à ditadura franquista: 300 intelectuais encerrados no Monastério reclamaram ao General Franco respeito aos Direitos Humanos.

Sobreviveu ainda a dois grandes incêndios que destruíram boa parte da floresta ao seu redor, em 1986 e 1994. Mas a natureza concedeu a Montserrat a dádiva da regeneração, o que eu pude conferir em detalhes na descida de teleférico sobre o vale do Llobregat.

Um domingo tão mágico e revigorante, física e espiritualmente, que nem reclamei do cansaço – e muito menos de ter que jogar fora as alpargatas, que voltaram imprestáveis.

Montserrat é, com certeza, um dos lugares mais encantadores da encantadora Cataluña. Saí de lá com a certeza de que voltarei. Um dia.

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Fotos Anamaria Rossi

Não sei bem como acontece. Chega um momento em que a gente sabe que é hora de voltar para casa. Não importa o que esteja acontecendo ao seu redor. Não importa tudo o que você poderia ter vivido e ainda não deu tempo de viver neste lugar que não é o seu. Se é festa lá fora, seu coração apertado de saudade te obriga a ficar colado na tela do computador em busca de sinais do seu mundo, aquele que é só seu.

Hoje acordei cinzenta como tem andado o céu por aqui. Mas meu coração morno explodiu em alegria quando comecei a assistir a transmissão ao vivo da abertura da Bovespa, comemorando o lançamento da maior operação de mercado do Mundo Mundial – a gigantesca oferta pública de ações da Petrobras do Pré-Sal.

Lá estava um pedaço enooooorme de mim! Do meu coração verde-amarelo, da minha história, dos meus sonhos e esperanças para o meu Brasil Brasileiro. Lá estavam algumas das pessoas mais queridas deste meu coração vagabundo. Amigos com os quais vivi e aprendi e sigo aprendendo muito da vida, da amizade, do amor em todas as suas formas. Lá estava eu, euzinha, inteira, ainda que sem corpo presente.

Nunca antes neste meu ano sabático tive tanta vontade de ter deixado esta viagem para depois. Eu queria estar lá! Sentir a alegria que sinto agora, mas junto com eles – a Mirian, o Alexandre, o Estrella, o  Duque, o Zé Eduardo, o Gabrielli. Morri de orgulho de todos eles, e de muitos mais que acreditam e trabalham duro e dão o melhor de si para que o Brasil seja cada vez mais o nosso Brasil Brasileiro.

Depois de um ano respirando a poeira do Velho Mundo, conversando com as pedras seculares das ruas e das paredes, me indignando com o que há de bolor e me contagiando com o frescor que insiste em renascer da velha História, só o que desejo agora é voltar para casa. Para a minha doce Terra Brasilis. Lá onde bate meu coração a mil badaladas por segundo, onde tudo está por ser feito, criado, inventado e reinventado por nós. Onde a gente é a minha gente.

Bueno, enquanto o dia não chega… vou ali aproveitar um pouquinho da Fiesta de la Mercè, a grande festa anual dos barceloneses. Porque, afinal, a vida é agora!

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Fotos Anamaria Rossi

Funciona assim: você recebe uma lista de ingredientes, com quantidades limitadas, e tem que criar uma receita profissional, com ficha técnica e planilha de custo, sem ultrapassar determinado limite por porção. No dia do exame, recebe uma bandeja com os ingredientes que escolheu e tem duas horas para elaborar seu prato e apresentá-lo dignamente a uma banca de chefs.

A lista não permitia sair muito do tradicional “mar y montaña” catalão, que é basicamente mesclar ingredientes de mar e de terra num mesmo prato. O mais famoso por aqui, e meu preferido, são as Albóndigas con Sépia. As almôndegas são feitas de uma mescla de carnes de porco e boi, e o molho tem pedaços e tinta de sépia, um parente próximo da lula. Uma delícia!

Pois eu tinha à minha escolha, para duas porções: duas coxas de frango, um rabo de rape (monkey fish), duas codornas e seis camarões médios. Fiquei com as duas codornas e os camarões, e completei com o que a lista dos ingredientes me permitia.

Sabia desde o início que faria uma pasta. Fresca. Quebrei a cabeça por semanas até encontrar o formato final do prato: Raviolis rellenos de codorniz con tomate y gambas.

Sei que parece estranho ao paladar brasileiro. Codorna com camarão? Como assim? Mas eu tinha que arriscar, porque só com duas míseras codornas eu não consegui imaginar duas porções de alguma coisa razoável.

Lembrei que um dos pratos que sempre gostei de fazer para as pessoas queridas eram as Codornas ao Estragão,  de Florinda Bolcan. E eu estava realmente decidida a colocar uma dose de memória afetiva no meu prato final.

Descobri que o estragão também é muito usado com camarões, e resolvi fazer desta erva de sabor forte e adocicado (“anisado”, segundo um dos chefs da banca) o elo entre os dois sabores marcantes – a codorna e o camarão. Um elo com um toque suavizante para ambos.

É claro que eu estava correndo um enorme risco. Mas, fala a verdade, tem graça se não arriscar? Estou aqui para quê, afinal?

Alguns dos meus colegas optaram por combinações mais convencionais, e puderam se concentrar na execução do prato e numa certa desconstrução de itens do receituário espanhol. Era um caminho, mas para mim daria no mesmo, porque o receituário espanhol não é o meu – então, qualquer coisa seria novidade. Resolvi arriscar.

Não cheguei a fazer o prato em casa, a título de treino, antes do exame. Na verdade, fiz partes dele – o que me permitiu ajustar isto e aquilo – mas, por diversas razões, não cheguei à montagem final. Ou seja: a estréia da receita seria uma estréia mesmo! A hora da verdade!

O que me causou um problema, porque antes da prova eu tinha que entregar a receita, a planilha e uma foto do prato – e eu não tinha a foto! Bueno, recorri ao Paint e fiz um desenho infantil sinalizando ao chef o que eu pretendia fazer. Ele topou.

Antes de subir a escadaria da cozinha, paramos num café em frente à escola, eu, Alícia e Paloma. As duas estavam na Coca-Cola, mas meu coração acelerado pedia una copa de cava. Sorvi cada borbuja! No fundo, eu queria me sentir como se estivesse cozinhando em casa, preparando aquela receitinha especial para o meu amor – e nestas horas a gente sempre toma uma tacinha de vinho, né?

Deu certo. Cheguei tranquilinha à cozinha. Vesti o uniforme branquíssimo, preparei a mesa de trabalho, recolhi a bandeja com meus ingredientes e comecei a picar, picar, picar…

Duas horas depois, estava eu suando em bicas quando o chef me avisou: Ana, é a sua vez. Ele já estava a postos para me ajudar no emplatado (o arranjo dos ingredientes no prato de apresentação), como havia feito com todos. Olhei para ele e disse: “Lluis, obrigada, mas eu mesma vou montar o meu prato.” Ele apenas riu e respondeu: “Te conhecendo um pouco, Ana, nem me passaria pela cabeça algo diferente!”

Tentei explicar, mas ele não entendeu, porque ele não sabe o que é I Ching.

Explico. Quando estou mais alterada que o normal, consulto o I Ching para me ajudar a recuperar o foco. E quando fiz isso hoje de manhã, o hexagrama que resultou da consulta tinha um desenho muito similar ao desenho que eu havia imaginado para o prato. Fiz apenas pequenos ajustes para que, ao final, o prato reproduzisse as seis linhas do hexagrama. E estava decididíssima a fazer do meu prato final, mais que uma prova de cozinha, um rito de passagem.

Fiz. Meio capengamente, mas fiz. No final, os raviolis ficaram um pouco grandes para o quadrado do prato. Lluis queria mudar o desenho, cortar as beiradas dos raviolis, mas não deixei. Naquele momento, o prato tinha transcendido, para mim, qualquer fronteira estética: era um símbolo e, como tal, deveria ser preservado em sua essência.

E lá fui eu servir tudo isso à banca de chefs!

– Senhores, este é um Ravioli Recheado de Codornas ao Molho de Camarões e Tomate Fresco. Bon profit!

Eu tinha sido a última a apresentar o prato, um dos mais demorados e trabalhosos da turma. Voltei para a cozinha exausta, molhada de suor, e comecei a recolher a tralha enquanto esperava o veredito.

Dez minutos depois, entra o chef mor para a avaliação. Começa a falar em linhas gerais, sem nomear pratos, sem apontar bem ou mal sucedidos. Mas ele não resistiu a cinco minutos de olhares inquisidores: queríamos saber tudo, claro!

Não sei quanto tempo ele demorou para chegar aos meus raviolis, mas me pareceu uma eternidade.

– Os raviolis são seus, não? – perguntou, apontando para mim.

– Sim, chef.

– Estavam muito bons!

Uahhhhhhh! Foram cinco segundos de respiração suspensa, antes que ele pronunciasse a palavra “mas…”

E no “mas…” fiquei ainda mais feliz, porque todos os ajustes que ele propôs ao prato diziam respeito unicamente à montagem. Um pouco menos de tomate cru, raviolis menores e com maior proporção de recheio em relação à massa, uma porção menor…

Expliquei a ele que o prato havia sido pensado como principal, não como entrada, que é o destino das pastas aqui na Espanha. E perguntei qual era o veredito dele para tudo o mais que não fosse a montagem. Afinal, eu estava – e estou – tateando no universo do “mar y montaña”, e nunca na vida tinha pensado em unir codornas, camarões e estragão.

Sabe que ele gostou? Disse que estava muito bem elaborado, a pasta, o molho, o recheio, a combinação de sabores. Gostou especialmente do sal de codornas que fiz com a pele das bichinhas. Só tinha mesmo restrições à quantidade de pasta e de tomates no prato. E me deu dicas ótimas para uma próxima vez!

Mas o melhor de tudo foi quando ele saiu e meus colegas vieram provar um pedacinho do que havia sobrado – o que fizemos com todos, claro! Ah, este foi o grande momento! Em menos de um minuto não havia nada no prato. O veredito dos meus parceiros foi meu maior prêmio.

Para a alegria ser completa, desci a escadaria e lá estava Pedro, meu doce primo, de plantão na saída da escola, com o maior abraço do mundo à minha espera.

Voltei para casa suada, exausta e feliz, me sentindo a mais menina de todas as meninas, falante e saltitante, como se a vida começasse agora, e não tivesse fim.

A receita? Só tenho em espanhol, serve?

Doñana bebemorando com Pedro depois da prova


* Este post e o diploma de Cozinheira que receberei na próxima semana são especialmente dedicados à Dona Vilma, minha amada e saudosa avó, a quem devo a descoberta do prazer de cozinhar.


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