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Donana nasceu em Barcelona, em 2009, de parto natural. Escorregou feito um quiabo enquanto eu escrevia um post aqui para o yo que sé?, blog que mantive em minha primeira temporada em Barcelona, entre 2009 e 2010. É filha legítima das aulas de Cocina e Pastelería que tive naquele ano na Escuela Hofmann, na Carrer de la Argentería, no Born, parte baixa da Cidade Velha, espremida entre o Mediterrâneo e a Igreja de Santa María del Mar.

Vagos Lumes.pngEla cresceu mas não desgrudou de mim, e acabou voltando comigo para o Brasil, em 2010. Nos trópicos, viveu aventuras inquietantes, experimentou novos sabores, arriscou-se em novas receitas e multiplicou-se em novos dilemas. Instalou-se comigo no vagos lumes, blog que me acompanhou durante quase cinco anos no Brasil, até eu voltar para nova temporada em Barcelona, em setembro de 2015.

A essa altura já emancipada, Donana preferiu ter sua própria quitinete, e ganha agora um blog só para ela. Nas prateleiras nem sempre organizadas e sujas de farinha, ela reúne os causos, aventuras, erros e acertos, desastres, descobertas e algumas receitas de sua infância em Barcelona e adolescência no Brasil. Com o tempo, vamos organizando melhor o espaço e dividindo com vocês tudo o que ainda está por vir no reino das nossas aventuras culinárias.

Bora lá?

Donana_ícone

Estou de volta a Barcelona para uma nova temporada, e como os tempos são outros acabei criando um novo blog:

ACHADOS & PERDIDOS

Apareça!

Venha me visitar e divagar comigo no novo blog:

VAGOS LUMES

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Este é o cartão de Natal que fiz para meu blog novo, vagos lumes, pois pretendo continuar vagando e me alumiando rede afora.

Vou adorar se você vier comigo!

Em todo caso, ainda volto aqui para contar um causo ou outro…

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Casa

Lulu Santos

Primeiro era vertigem
Como em qualquer paixão
Era só fechar os olhos
E deixar o corpo ir
No ritmo
Depois era um vício
Uma intoxicação
Me corroendo as veias
Me arrasando pelo chão
Mas sempre tinha
A cama pronta
E rango no fogão…

Luz acesa
Me espera no portão
Prá você ver
Que eu tô voltando pra casa
Me vê!
Que eu tô voltando pra casa
Outra vez…

Às vezes é tormenta,
Fosse uma navegação.
Pode ser que o barco vire
Também pode ser que não

Já dei meia volta ao mundo
Levitando de tesão
Tanto gozo e sussurro
Já impressos no colchão…

Pois sempre tem
A cama pronta
E rango no fogão, fogão!…

Luz acesa
Me espera no portão
Pra você ver
Que eu tô voltando pra casa
E vê!

Que eu tô voltando pra casa
Outra vez…

Primeiro era vertigem
Como em qualquer paixão
Logo mais era um vício
Me arrasando pelo chão…

Pode ser que o barco vire
Também pode ser que não
Já dei meia volta ao mundo
Levitando de tesão…

Pois sempre tem
A cama pronta
E rango no fogão
Fogão! Fogão!…

Luz acesa
Me espera no portão
Prá você ver
Que eu tô voltando prá casa
Me vê!
Que eu tô voltando prá casa…

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PS: O blog não termina aqui. Voltarei vez ou outra para contar um pouco das muitas histórias que ainda não contei de minha temporada em Barcelona.

Obrigada, de coração, a todos os que me acompanharam nesta incrível viagem.

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Para renovar o estoque de carinho do filhote e da nora... (por Pedro Rossi)

... fomos tomar umas cañas no café dos argentinos... (por Feder, o camarero)

Tristeza é ver o filho amado partir para muy lejos... (por mim)

Na verdade, as despedidas começaram antes, no niver do Chiquinho... (por mim)

Con mi grande compañero, el guapísimo Pedro Rossi... (por Ines Copf)

Ines, Pedro e Ceci, na casa onde tudo começou... e terminou (por mim)

Com minha querida família barcelonesa, a Padovani-Amaral: Tomás, Angélica e João... só faltou o Chiquinho... (por Ines Copf)

Con las chicas más fuefas do mundo mundial, Patu e Michelly... (por Ines Copf)

A Grande Família posa para o porta-retrato... (por Ines Copf)

Aqui com Ines, a bósnia-grega mais encantadora do pedaço... (por Pedro Rossi)

No derradeiro passeio, os vitrais da igreja Santa Maria del Mar...

... onde agradeci muitíssimo à Virgem de Montserrat por tudo o que a Catalunha me deu nesses 14 meses... (por mim)

E o ponto final, a Plaza Cataluña, onde Barcelona é muito mais Barcelona... (por mim)

Foto Anamaria Rossi

Se o amor tivesse razão, eu diria que uma das razões pelas quais amo Brasília é sua infinita capacidade de me surpreender. Brasília não é moderna, ela vem antes. Antes que a gente possa entender, e ainda que a gente não entenda, as coisas acontecem. E a gente que corra atrás.

Em Brasília – uns se lamentam e outros se vangloriam disto – ninguém escapa a uma perturbadora intimidade com o poder. Seja trabalhando numa instituição pública, prestando serviços a uma autoridade, cruzando com um deputado em caminhada no Parque da Cidade, desviando de carros oficiais no trânsito ou simplesmente tendo a Esplanada dos Ministérios como um grande jardim coletivo. Para o bem e para o mal, em maior ou menor medida, o poder e seus símbolos acabam fazendo parte da vida de um brasiliense.

Talvez por isso, em Brasília, uma simples conversa de butiquim sobre política nunca é uma simples conversa de butiquim. É, quase sempre, um debate acalorado, repleto de informações de bastidores, detalhes picantes e especulações carregadas de sentimentos humanamente apaixonados.

Lembro de meus tios perguntando, quando eu ia de férias a Ribeirão: “E aí, como vai o Presidente?” No início eu ficava meio irritada com a pergunta, não queria ser confundida com o Presidente ou quem quer que representasse, para os de fora, o poder instalado em Brasília. Hoje entendo: não há como ser diferente.

Mesmo assim, continuo advogando em defesa da Brasília dos sem-poder, aquela do nosso dia-a-dia, na qual trabalhamos, amamos, educamos, passeamos, nascemos e morremos como qualquer outro cidadão do País, sem uma gotinha de poder para além de nossos títulos eleitorais.

Mas mesmo nós, os sem-poder, aprendemos um pouco sobre o poder. A convivência nos revela seus truques, a intimidade nos ensina a antecipar tendências, a sentir no ar o fedor do que está podre e o frescor do que vai nascer logo adiante. Mesmo que raras vezes a gente identifique e dê voz a essa percepção.

Eu confesso que estava com medo desta eleição em Brasília. Medo de voltar e encontrar uma cidade ainda arrasada pela desmoralização que o arrudagate, o erenicegate e todos os escândalos de fato e de laboratório impõem a todos nós, os sem-poder de Brasília.

Mas meu medo transformou-se em agradável surpresa ontem, enquanto acompanhava a apuração dos votos pela internet aqui de Barcelona. Mais pelo cenário nacional que pelo local, confesso – embora a vantagem de Agnelo sobre o clã Roriz e a eleição de dois senadores de esquerda pelo DF tenham me llenado de esperança.

O que me surpreendeu de verdade foi ver Marina Silva vencendo as eleições no Distrito Federal, único pontinho verde num mapa vermelho-e-azul.

Alguns dirão que foi um voto de protesto puro e simples, mas para mim foi mais do que isso. Um protesto, sim, claro e contundente, mas longe de ser uma manifestação vazia e sem sentido. Os 41% de votos que Brasília deu a Marina me soam como um gesto de rebeldia tão autêntico e visionário quanto pode ser o despertar de um adolescente.

Ou, no caso dos que envelhecem mas não deixam morrer o adolescente que levam dentro, o voto de quem conviveu oito anos, em incômoda intimidade, com um governo demotucano, e mais oito com um governo petista, e – tal qual a amante depois de longo tempo – conhece de cor as artimanhas do parceiro.

Adolescente ou velha amante, Brasília mais uma vez chegou antes. Menos pelo sim ao desconhecido, simbolizado por Marina, que pelo não aos nomes, modelos e práticas dos quais já se sente um tanto intoxicada, e compreensivelmente farta.

Brasília apostou no novo, ainda que não saiba muito bem qual é a novidade. Esta é a vocação e pode ser a salvação da cidade.

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Antes que eu me esqueça: Marina Silva não é minha candidata, embora eu a admire como pessoa, como mulher e como política. Sou eleitora e defensora da candidatura Dilma Rousseff, porque acredito que nunca antes na história deste País estivemos tão no rumo certo como agora. Mas isso não me impede de sentir o sopro de outros ventos.


Texto José Rezende Jr. / Foto Anamaria Rossi

Foi assim que chegou na minha caixa postal:

“Quero agradecer as rezas, as novenas, as correntes de oração, os despachos, os dedos cruzados, as energias positivas, as torcidas atéias e agnósticas. Quero agradecer a todos vocês, que me honram com seu tempo, sua atenção, seu carinho. Sem vocês, meus queridos macroleitores, o que seria deste microescritor? Então, faço questão de dizer bem alto: “O JABUTI É NOSSO!!!

Valeu, gente!

José Rezende Jr.”

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Como assim, ganhar o Jabuti concorrendo com Milton Hatoum (A Cidade Ilhada), Moacyr Scliar (Histórias que os jornais não contam), Roberto Damatta (Crônicas da Vida e da Morte)?

Só o Rezende mesmo! Com Eu perguntei pro velho se ele queria morrer (e outras histórias de amor), esse mineirinho simpático e surpreendente arrebatou o maior prêmio da literatura brasileira na categoria Contos e Crônicas.

Que ele é um grande jornalista, eu já sabia há muito tempo. Mas que é um grande escritor, descobri faz alguns meses, quando esbarrei por acaso no site do Rezende, baixei um de seus livros e não consegui mais parar de ler!

O resultado completo da 52a. edição do Prêmio Jabuti está aqui. O nome do Rezende está nesta lista aqui.

E eu estou feliz demais da conta!

Parabéns, Rezende! Que o Jabuti leve suas histórias até os confins desse mundão!

Fotos Anamaria Rossi

Ainda me lembro do primeiro dia de aula, quando todos pararam para olhar aquela aluna estranhíssima que chegava atrasada, metida num tropicalíssimo vestido florido de mangas largas. Eu era apenas uma estrangeira, de três, numa turma de catalães típicos, que só falam catalão entre si e não dão muita trela para estranhos.

Resisti bravamente. E valeu a pena! Hoje foi nossa Aula de Formatura e saí de lá com o terceiro diploma de mi vida: Pastelera!

Aula de Formatura, sim, porque nós mesmos preparamos os quitutes, montamos a mesa e fizemos a festa. Com direito a muito Cava, claro.

Não, vocês não estão vendo mal: essas delícias aí de cima são espetinhos crocantes de camarão, rebozados com ingredientes tão estranhos como arroz verde, farelo de milho torrado e pan rallado turbinado com glucosa.

Nunca imaginaram isso numa aula de doces, certo? Pois nem eu. Foi uma espécie de preview do curso avançado de Pastelería, quando se aprende a aplicar na confecção de pratos salgados as delicadas técnicas da repostería.

Algo como confeccionar delícias salgadas que, tal qual os doces, comeremos antes com os olhos. Como os delicados samosas, feitos com massa de rolinho primavera e recheio de legumes salteados com espécies orientais.

Não sei se houve uma reserva especial de humor para a derradeira aula, mas estavam todos tão sociáveis e divertidos que me deu até pena de ir embora…

Preparamos também um canapé que é uma miniatura de torta tatin. Sobre uma base de massa folhada, assada separadamente, encaixamos rodelas de maçã assadas com caramelo em pó, e o toque final e salgadinho fica por conta de um pedacinho de foie salteado na hora.

Antes mesmo de saltear o foie, Carmem já tinha ajeitado todas as mini-tatins na bandeja do banquete…

Preparamos também madalenas salgadas, em forminhas de brigadeiro pequenas, com três recheios diferentes: sobrasada (embutido pastoso típico de Mallorca, à base de carne e gordura de porco, pimenta negra e muita páprica picante); olivada (pasta de azeitonas negras com azeite e, às vezes, anchovas) e  queijo tupí (queijo cremoso curado e temperado com aguardente, de sabor forte e persistente, produzido nos Pirineus Catalães).

Na foto acima, os copinhos onde serão apresentados os espetinhos de camarão recebem una salsa caliente de queijo parmesão.

Tudo pronto, só falta o acabamento de foie sobre as tortinhas de maçã!

A ordem era atacar, mas quem tinha coragem de desmontar aquela belezura toda antes de, pelo menos, tirar uma foto?

E aqui o registro dos dois troféus do dia: o diploma e o curativo no dedo, vítima da faca afiadíssima enquanto picava legumes para o samosa

Bueno… Como tudo começa e termina em Madalena, encerro a sessão Doñana com as deliciosas e facílimas…

MADALENAS PARA APERITIVO

  • 60 g de açúcar
  • 2 ovos
  • 100 g de farinha de trigo
  • 6 g de pó Royal
  • 100 g de manteiga derretida e esfriada
  1. Bata bem os ovos com o açúcar.
  2. Acrescente a farinha peneirada com o pó Royal e misture delicadamente.
  3. Incorpore a manteiga derretida sem bater.
  4. “Tempere” a massa, ou partes dela, com o que lhe apetecer, de preferência ingredientes salgados, pastosos e de sabor pronunciado.
  5. Cubra a massa com filme e deixe repousar na geladeira por pelo menos uma hora.
  6. Encha forminhas de brigadeiro até quase a boca e leve ao forno pré-aquecido (210 graus) por poucos minutos, até que as madalenas estejam crescidas e cozidas (faça o teste do palito).

OBS: Apesar de levar açúcar, a massa não fica exatamente doce, principalmente se o ingrediente escolhido para dar sabor for bem salgadinho. Não se aconselha reduzir a quantidade de açúcar da massa, isso mudará totalmente sua textura.

Bon profit!

* Por incrível que pareça, a festa de formatura dos doceiros não teve sobremesa…

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Fotos Anamaria Rossi

Semana passada fui visitar duas bodegas de Cava, o vinho espumoso com DOC (Denominação de Origem Controlada) da Cataluña. O Cava está para a Espanha como o Champagne para a França. Não são iguais, embora sejam ambos vinhos espumosos. Provêm de uvas distintas e passam por processos e etapas de produção bem diferentes. Para um neófito, podem parecer a mesma coisa, mas um bom conhecedor sabe a diferença – como também sabe que são diferentes o excelente espumante brasileiro e o famoso Prosecco italiano.

A generosíssima Patu já havia me levado a Sant Sadurní D’Anoia para conhecer o Instituto do Cava, que entre outras coisas trabalha duro para criar mercado para o seu produto no Brasil.  Sant Sadurní é a Capital do Cava. Fica no meio das montanhas do Alt Penedés, cercada de vinhedos por todos os lados, e cheia de cuevas, as cavas, nos subterrâneos. Ali se produz 90% de todo o Cava espanhol.

Ainda me faltava conhecer as bodegas e ver, ao vivo, como é feito este vinho que se tornou minha mais nova e perene paixão. A idéia era ter voltado a Sant Sadurní a tempo de contar essa história numa Carta de Barcelona, mas não deu. Uma pena. Porque é uma verdadeira Viagem ao Centro da Terra!

O Instituto do Cava, sabedor do meu interesse inclusive como provável futura compradora no Brasil, agendou visitas a duas bodegas já devidamente representadas e distribuídas em terras brasileiras, Freixenet e Gramona. Recepção de luxo e altamente profissional em ambas, com direito a degustação no final!

O Grupo Freixenet é o maior produtor de Cava do Mundo Mundial, a milhas e milhas de distância dos demais, e seus diversos rótulos chegam a todas as partes do mundo. É provavelmente o Cava mais conhecido no Brasil, e o mais consumido.

A visita compreende a cava antiga, onde ainda se produzem umas poucas variedades de Cava de forma artesanal, e a nova e gigantesca área de produção, totalmente automatizada, dotada de laboratório para o cultivo de leveduras patenteadas e tanques de fermentação que me fizeram lembrar dos tempos da Petrobras.

Como qualquer produto designado ao grande mercado consumidor, os Cavas Freixenet tem como marca registrada a constância. Você pode abrir uma garrafa de Cordon Negro, Cordon Rosado ou Carta Nevada em qualquer parte do mundo e sentirá o mesmo sabor. Este é o objetivo e ao mesmo tempo um importante fator de êxito da empresa. Para quem pede mais, o grupo oferece alguns rótulos de maior delicadeza e menor escala, como o Reserva Real, que infelizmente só está no mercado espanhol.

Bem diversa é a filosofia da Gramona, produtora dos chamados Cavas de alta gama. Embora o processo de produção seja moderno e bastante automatizado, alguns rótulos recebem cuidados tão especiais que chegam a ter as garrafas embaladas manualmente em celofane para chegarem intactas ao destino.

Boa parcela dos Cavas Gramona ainda são produzidos na cava antiga, quatro andares dentro da terra que sustenta o edifício administrativo no centro de Sant Sadurní. Pode-se dizer que, embora não seja exatamente uma produção em pequena escala, o processo mantido por esta bodega ainda é, em certa medida, artesanal.

Descer as escadas úmidas e penetrar nas cuevas escuras e centenárias é uma experiência indescritível! Fotografar é quase impossível. Os vinhos, ali, repousam de quatro a cinco anos na mais absoluta escuridão – tempo que a levedura leva para forjar sabores igualmente indescritíveis, e as garrafas são cobertas pela poeira fina da maturação.

Até os anos 80, a Gramona manteve uma unidade de produção no Brasil, mais precisamente em Jundiaí, e chegava às gôndolas sob o rótulo Gramond. Hoje a produção é exclusivamente catalã. Allegro, Imperial e III Lustros são três dos rótulos atualmente distribuídos no Brasil. Todos di-vi-nos!

Ai, acho que eu vou ter que montar um café só para poder colocar essas delícias no cardápio…

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